Begegnungen

 

Fernando, LissabonFome de amor

"O pobre não tem somente fome de pão; também tem uma terrível fome de dignidade humana. Nós temos necessidade de amor e de existir para alguém. E é aí que cometemos um erro sempre que empurramos as pessoas para baixo. Não só recusámos aos pobres um pedaço de pão, como além disso, ao considerá-los como nada, abandonando-os na rua, lhes recusamos essa dignidade que é sua, de pleno direito, enquanto filhos de Deus. Hoje em dia, o mundo não tem fome só de pão, mas também de amor; tem fome de ser desejado, de ser amado. As pessoas têm fome de sentir a presença de Cristo Em muitos países, há de tudo em abundância, excepto essa presença, essa benevolência.

Há pobres em todos os países. Há continentes em que a pobreza é mais espiritual que material: é uma pobreza feita de solidão, de desalento, de ausência de sentido. Mas também nas ruas da Europa e da América vi pessoas na maior miséria, a dormir em caixas de papelão, vestidas de trapos. Tanto Paris como Roma e Londres conhecem essa forma de pobreza. É tão simples falar sobre os pobres que estão longe ou preocuparmo-nos com eles. É mais difícil, e quiçá um desafio maior, prestar atenção e preocuparmo-nos com o pobre que vive a dois passos da nossa casa.

O arroz, o pão que dou ao esfomeado que encontro na rua acalmar-lhe-ão a fome. Mas é muito difícil saciar a fome daquele que vive na exclusão, na falta de amor e cheio de medo. Vós, que viveis no Ocidente, muito mais que a pobreza material, conheceis a pobreza espiritual e é por isso que os vossos pobres estão entre os mais pobres. Entre os ricos, há muitas vezes pessoas espiritualmente muito pobres. A meu ver, é fácil alimentar quem tem fome ou dar dormida a um sem-abrigo. Mas consolar, apagar a amargura, a cólera e o isolamento que resultam da indigência espiritual, isso exige muito mais tempo."


Beata Teresa de Calcutá, No Greater Love (Não há maior amor) S. 93

A imagem mostra Fernando que era por anos sem abrigo e vivia por algum tempo na Av. Columbano Bordalo Pinheiro, as vezes doente. Vizinhos e pessoas que passavam là ajudavam à ele com comida, roupa, sacos de dormir e tambem tabaco. Fumar era o pequeno prazer de Fernando. Com algumas pessoas ele estableceu uma pequena amizade. Falava tambem Inglês, Italiano, Francês e Espanhol. Recitava poemas de Fernando Pessoa e outros poetas portugueses, cantava ... lembro me com muita simpatia dele, que era como uma luz na minha vida diaria. Depois de uma prolongada estadia num hospital por causa dum grave problema com uma das pernas, com o perigo de ser amputado, foi internado num lar para pessoas idosos em Alcantâra. Isso è uma pequena lembrança dele.

E sim falta atenção um pelo outro nessa sociedade de Lisboa. Faltam muitas vezes pequenos gestos, um sorriso, uma certa atenção pelos necessidades do outro, do proximo. Falta a confiança, falta muitas vezes a solidariedade, falta um pouco o calor de ser humano, de ser tocabile, der ser aberto pelo proximo. As vezes um pequeno encontro è possivel, as vezes essa atenção è presente e da à mim uma tão grande esperança e também alegria. São esses pequenos gestos, que fazem toda a diferença, que são verdadeiramente a riqueza duma sociedade. Espero que ultrapassamos todas as dificuldades com a consciência de fraternidade. Em Cristo.Charles de Foucauld coeur